ARIAS, G.S. A experiência emocional de crianças migrantes e refugiadas acolhidas em São Paulo. 164 p. Tese (Doutorado em Psicologia Clínica) – Instituto de psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo (SP), 2022.
Disponível em: https://doi.org/10.11606/T.47.2022.tde-17012023-120005
Resumo: A temática dos deslocamentos internacionais tem se mostrado de grande relevância, já que se tornou uma realidade mundial, devido a ocorrências de conflitos armados e crises sóciopolíticas que potencializam condições precárias de subsistência. Este estudo teve como objetivos gerais: descrever aspectos da experiência emocional de crianças em situação de migração e refúgio acolhidas na cidade de São Paulo e descrever o acolhimento psicológico oferecido a elas e a seus familiares. Os objetivos específicos foram: relatar a experiência do estágio doutoral na clínica transcultural na França, visando ao aprofundamento da discussão sobre as técnicas de acolhimento psicológico oferecidas neste estudo e a descrever aspectos da dinâmica familiar e introjeção das figuras parentais das crianças migrantes e refugiadas estudadas. Realizou-se uma pesquisa qualitativa, a partir do método clínico, em estudos de casos múltiplos. Participaram do estudo seis crianças, migrantes e/ou refugiadas, na faixa de sete a doze anos, sendo duas venezuelanas, três angolanas e uma haitiana, além de seis mães e um pai. Foram critérios de inclusão: residir no Brasil há, no máximo, um ano, em acolhimento numa instituição destinada para este fim, no município de São Paulo, local da coleta de dados. Foram realizados encontros terapêuticos, utilizando-se as técnicas de entrevista semidirigida com os pais, entrevistas lúdicas com as crianças e o Procedimento de Desenhos-Estórias com Tema. Observou-se que a relação com a experiência da migração se mistura à história de vida prévia dos participantes. A migração foi vivenciada como uma situação de crise, para a qual notou-se tentativas de elaboração de lutos. Necessidades de pertencimento e adaptação ao ambiente foram observadas. As crianças mostraram preocupações com a família, responsabilizando-se pelo apoio afetivo dos pais. Percebeu-se a importância da figura materna no que tange a segurança afetiva. A figura paterna foi vista como frágil e ausente. O enquadre de encontros terapêuticos foi adequado por permitir que os sujeitos recebessem escuta e acolhimento psicológico na crise. Aponta-se a necessidade de ampliar as pesquisas e a capacitação dos profissionais para o atendimento desse público.