O Procedimento de Desenhos-Estórias (D-E) é uma técnica de investigação da personalidade, composta por desenhos livres que servem de estímulos de apercepção temática. Os desenhos realizados pelos examinandos servem para a elicitação de estórias e demais verbalizações em função das necessidades de conhecimento da dinâmica psíquica, seja no diagnóstico psicológico ou na psicoterapia. Essa técnica de investigação foi introduzida em 1972 por Walter Trinca na Universidade de São Paulo como instrumento intermediário entre as entrevistas psicológicas não estruturadas e os testes projetivos gráficos e temáticos. Requer que o examinando realize cinco unidades sequenciais de desenhos livres e cinco estórias que lhes são associadas imediatamente após cada desenho, sendo seguidas de “inquérito” e de título.

Trata-se de uma estratégia de investigação intensiva da personalidade. O D-E costuma ser empregado juntamente com as entrevistas clínicas e os demais instrumentos de realização de estudos psicológicos. É aplicado geralmente nos contatos clínicos iniciais, sendo bem adaptado às necessidades de comunicação que ocorrem nessas situações. Pode ser aplicado indistintamente em todas as faixas etárias a pessoas que conseguem desenhar e verbalizar.

A análise e a interpretação do D-E não seguem referenciais padronizados, e sim de preferência uma abordagem por livre inspeção do material, levando-se em conta as entrevistas clínicas e os demais meios de obtenção de informações no contexto do atendimento. Ele não foi concebido como um teste psicológico, mas como um instrumento auxiliar à observação clínica e à intuição do profissional, em suas necessidades de compreensão psicológica globalizada do paciente. Caso o Procedimento de Desenhos-Estórias seja inserido e compreendido dentro do conjunto das informações disponíveis, pode se revelar facilitador de integrações dos dados nos processos diagnósticos e terapêuticos.

Ele apresenta tendências de focalização no material clínico significativo, seja consciente, seja inconsciente. São tendências que apontam os principais focos de angústias, fantasias inconscientes e defesas presentes em determinado momento e sob determinadas circunstâncias. Pelo fato de preponderar as associações livres e a liberdade de expressões gráfico-verbais, por meio da comunicação indireta que o examinando faz de si mesmo, torna-se natural que o material clínico dele resultante seja associado aos mecanismos encontrados nos sonhos noturnos. Isso vem facilitar a descoberta do foco da problemática inconsciente. Para a determinação do foco conflitivo, é necessário ter presente o contexto geral da comunicação, da qual o próprio D-E se constitui em elemento catalizador.

A amplitude e a abrangência da proposta contida no Procedimento de Desenhos-Estórias faz com que seu uso se estenda enormemente. Ele é empregado em consultórios particulares, mas também em instituições de diferentes tipos, seja no Brasil ou no exterior. Tem sido utilizado nas áreas médicas e hospitalares, nos contextos da saúde pública, da odontologia, da fonoaudiologia, da psicopedagogia, da enfermagem, do serviço social, do judiciário, entre outros. Há mais de 100 dissertações de mestrado e teses de doutorados realizadas a seu respeito ou com o seu emprego. A abordagem psicanalítica inicial ampliou-se de modo a se estender para as formas cognitivo-comportamentais, fenomenológico-existenciais, junguianas, psicodramatistas, gestálticas e outras.

Milhares de aplicações levaram à constatação de que, em muitos casos, se pode fazer do D-E um uso psicoterapêutico. Desse modo, ele é utilizado em consultas terapêuticas, diagnósticos interventivos, psicoterapias breves, intermediações terapêuticas, impasses terapêuticos, follows-up, etc. Tem sido aplicado a grupos, especialmente para a verificação de problemas inconscientes em comum nos membros de determinados grupos. Proliferam, também, os estudos e pesquisas sobre as populações carentes, abrigadas, marginalizadas e outras. Sua utilização se estende a casais, a cegos e ao estudo das violências de todos os tipos.

Uma importante variação do D-E é o Procedimento de Desenhos-Estórias com Tema, que tem sido amplamente difundido, tanto que aumentam consideravelmente as pesquisas com ele realizadas. Ele se aplica especialmente nos casos em que os sujeitos não sabem o que deles se espera, devendo ser explicitada a tarefa na situação de exame por meio de um tema a ser desenhado, seguido de estória “inquérito” e título. Quando se trata do D-E tradicional, o tema não necessita ser explicitado, porque faz parte da situação de atendimento, que se configura por si mesma. No D-E com Tema, porém, o examinador propõe o tema de seu interesse, podendo facilmente ser aplicado a grupos. Ele tem sido empregado com sucesso no estudo psicodinâmico das representações sociais, visando detectar os inconscientes relativos das representações, assim como apreender os imaginários coletivos.

Outra variação do D-E é o Procedimento de Desenhos de Família com Estórias (DF-E), tendo por objetivo principal as relações intrapsíquicas e interfamiliares associadas à família, explorando os aspectos emocionais conscientes e inconscientes dessas relações. Solicitam-se quatro desenhos de família, que o examinando realiza, mutatis mutandis, segundo princípios semelhantes aos do D-E: desenho, estória, “inquérito” e título para cada unidade de produção. As consignas são as seguintes: “desenhe uma família qualquer”, “desenhe uma família que você gostaria de ter”, “desenhe uma família em que alguém não está bem” e “desenhe a sua família”. Observa-se que as representações da família mobilizam os examinandos de todas as idades a expressar seus conflitos e dificuldades, trazendo à tona questões relativas aos determinantes familiares. É um instrumento que tem sido utilizado com vantagem no atendimento familiar, no caso de separação dos pais, na avaliação cruzada entre pais e filhos, nas disputas judiciais envolvendo a família, nas questões escolares, nos diferentes arranjos familiares e tipos de famílias, nas relações fraternas, etc. Têm sido feitas referências ao uso do DF-E em atendimentos breves, orientações escolares e intervenções terapêuticas em que as questões familiares se tornam relevantes.

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