VILLELA, E. M. B. A formação do psicólogo e o atendimento a deficientes visuais e suas famílias no contexto de clínica-escola. 226 p. Tese de doutorado. Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
A discussão presente neste trabalho é a de como o estágio supervisionado dentro da clínica-escola pode se constituir como um espaço formador (aprendizagem de um ofício) e transformador (de enriquecimento pessoal) para o estudante de psicologia em seu posicionamento ético ante a diversidade. Na elaboração supervisionado de atendimento clínico a crianças deficientes visuais com queixa emocional e a seus pais. Ao oferecer esse serviço, investigamos o quanto o aluno é atingido por essa prática no que diz respeito aos seus conflitos e as alterações em sua forma de conceber e atuar junto à pessoa deficiente visual. A aprendizagem implicada na formação profissional é um processo dinâmico de reconstrução contínua do conhecimento a partir da própria pessoa. A supervisão deve oferecer um ambiente favorável para a emergência da singularidade de cada aluno. A reflexão da prática e a partilha no grupo levam à construção de sentidos para a experiência clínica, e ao desenvolvimento pessoal e profissional. O material constou da narrativa dos estagiários antes e após a experiência vivida e o Procedimento de Desenhos-Estórias com Tema: uma pessoa com deficiência visual, aplicado no inicio e no final do estágio. Norteou nossa análise e discussão do material a concepção psicanalítica winnicottiana de amadurecimento, que nos diz sobre a existência de uma dialética entre o indivíduo saudável e a fundação de uma sociedade saudável, sendo essa, por sua vez, o ambiente que sustenta o desenvolvimento do indivíduo autônomo. A autonomia, que é o projeto de uma formação profissional ética, relaciona-se ao sentir-se parte de um coletivo, responsável por ele, e do qual também se é dependente, e a partir do qual se constrói seus próprios sentidos. Pudemos observar transformações rumo a uma aproximação mais madura dos estagiários diante da questão da deficiência e uma maior disponibilidade para a alteridade. Desta forma concluímos ser de fundamental importância a oferta de oportunidades de contato e reflexão da prática com pessoas com deficiência no âmbito da formação universitária. Essas oportunidades se constituem como uma estratégia formativa para o profissional psicólogo em sua dimensão ética, ou seja, a geração de profissionais abertos para a diversidade de modos de subjetivação, reflexivos e multiplicadores de ações inclusivas.