CORTEZ, L. P.; PASIAN, S. R.; ARECO, N. M. Avaliação de vivências afetivas de uma criança em tratamento de câncer por meio do Procedimento de Desenhos-Estória In: Anais do ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RORSCHACH E MÉTODOS PROJETIVOS: Fundamentos e Construções Contemporâneas dos Métodos Projetivos PUC Goiás, Goiânia (GO), p. 78, 2018.
Disponível em: https://www.asbro.org.br/arquivos/Fundamentos_e_construcoes_contemporaneas_dos_metodos_projetivos_2018.pdf
O desenvolvimento infantil, quando acometido por doenças, é impactado de modo variado, envolvendo características próprias do indivíduo, seu ambiente sociocultural e cuidados profissionais necessários. No caso de cuidados oncológicos essa situação se agrava por procedimentos, no geral, de natureza invasiva, aversiva e impactante, podendo dificultar o desenvolvimento psíquico, motor e/ou intelectual da criança, segundo a literatura científica da área. Nesse contexto, compreender variáveis relacionadas ao funcionamento psíquico infantil durante cuidados oncológicos pode favorecer adequado aproveitamento dos investimentos pessoais e dos cuidadores para a positiva resolução dos casos. Objetivo: Esse trabalho tem por finalidade caracterizar e interpretar indicadores cognitivos, perceptomotores e vivências afetivas de uma criança sob cuidados oncológicos em serviço especializado, recorrendo-se a estratégias de avaliação psicológica. Trata-se de estudo de caso, realizado com menina de oito anos de idade, diagnosticada com meduloblastoma, sob cuidados oncológicos há 18 meses em serviço de referência de hospital-escola universitário do interior paulista. Material: Após devida autorização formal, criança e pais responderam a bateria de instrumentos de avaliação psicológica, incluindo entrevista, Questionário de Dificuldades e Capacidades (SDQ), Desenho da Figura Humana (DFH), Teste Gestáltico de Bender e Procedimento de Desenhos-Estórias, foco especial desta comunicação científica. Os instrumentos foram aplicados e avaliados conforme respectivos manuais técnicos, em duas sessões individuais com média de 60 minutos. Resultados: Os dados no Bender sinalizaram superficial preservação visomotora e funcionamento cognitivo compatível com o esperado para sua idade (DFH). Conseguiu realizar as cinco produções previstas pelo D-E, evidenciando fortes demandas afetivas e necessidades do auxílio externo, almejando autoafirmação e desejo de reconhecimento social, enfatizando qualidades pessoais nas figuras desenhadas. Pareceu projetar, por meio de suas produções, o contexto de profundas necessidades de amparo para continuar a sobreviver, recorrendo a defesas do tipo racional e dramaticidade, acompanhadas de idealização e negação, buscando mostrar a intensidade de seus afetos por meio de expressões repletas de advérbios e adjetivos, retratando, com clareza, riqueza em seu mundo interno. Sinalizou, desse modo, preservar funcionalidade global nas habilidades esperadas para sua faixa etária, porém com grande ênfase em demandas emocionais de cuidado, compatíveis ao contexto vivenciado. Conclusões: Os instrumentos de avaliação psicológica utilizados neste estudo de caso mostraram-se sensíveis e adequados para alcançar informações relevantes para a compreensão do funcionamento psíquico infantil diante do câncer. Desse modo, seria possível planejar ações profissionais voltadas ao amparo e suporte da criança compatíveis com sua gritante necessidade emocional, o que poderia tranquilizá-la nos vários cuidados oncológicos, ainda que invasivos, necessários ao caso.