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Oficinas Psicoterapêuticas em adolescentes com comportamento autolesivo: Uma proposta de intervenção

FERREIRA, L. S.  Oficinas Psicoterapêuticas em adolescentes com comportamento autolesivo: Uma proposta de intervenção. 293 p. Tese (Doutorado em Psicologia Clínica) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2022. 

Disponível em: https://doi.org/10.11606/T.47.2022.tde-12092022-082451

Resumo: O presente estudo enfoca a adolescência, em especial, a conduta autolesiva apresentada por participantes dessa fase, partindo da concepção de que essa é uma etapa do desenvolvimento marcada por importantes mudanças biopsicossociais e conflitos característicos dessa fase, fundamentais para o processo da construção da identidade adulta. Com base nos dados da literatura e experiência clínica, pode-se observar que a identidade se estrutura de forma mais satisfatória quando é possível ao adolescente viver em um ambiente suficientemente bom. Nos casos em que os conflitos da adolescência estão associados a um ambiente fragilizado, algumas condutas sugestivas de sofrimento e risco podem se evidenciar, como atuações autodestrutivas, entre as quais os comportamentos autolesivos. Pesquisas atuais demonstram aumento dos casos de autolesão em adolescentes e a necessidade de trabalhos relacionados ao comportamento, justificam, assim, a realização de estudos com foco na autolesão e a discussão de uma proposta interventiva viável voltada para os adolescentes. Visando atender a essa necessidade, o objetivo deste estudo, baseado na compreensão do comportamento autolesivo em adolescentes, foi propor as Oficinas Psicoterapêuticas em grupos como forma de intervenção. Os grupos foram inclusivos com a participação de seis adolescentes, entre 14 e 15 anos, que manifestavam a conduta de autolesão e participantes com outras manifestações. A pesquisa foi desenvolvida com base no método Clínico-Qualitativo, enfocando especialmente as seis adolescentes com comportamento autolesivo, separadas em dois grupos: um atendido de forma presencial em um Centro de Integração a Cidadania (CIC) da cidade de São Paulo e o outro realizado de forma remota, Telepsicologia, por meio de aplicativos de videochamada. Inicialmente foi realizado o processo Psicodiagnóstico Compreensivo, utilizando os instrumentos: entrevista com os responsáveis e entrevistas individuais com as adolescentes, Questionário de Avaliação de Qualidade de Vida (AUQEI), Questionário de Depressão Infantil (CDI) e Inventário de Ansiedade (BAI). Após essa etapa, as adolescentes, junto de outros participantes, foram convidadas a participar de Oficinas Psicoterapêuticas, realizadas em 12 encontros semanais. No primeiro encontro, foi solicitado o Procedimento de Desenhos-Estórias com Tema, com o tema “Desenhe um adolescente em São Paulo hoje” e as demais sessões foram feitas com base na materialidade de desenhos, pinturas, colagem, imagens, músicas e vídeos. Ao final dos encontros, foram realizadas entrevistas devolutivas individuais e a reaplicação dos instrumentos. Os dados encontrados no processo Psicodiagnóstico Compreensivo confirmaram a relação entre o comportamento autolesivo em adolescentes e prejuízo na qualidade de vida, principalmente relacionado às questões familiares, presença de sintomas depressivos e ansiosos e situações conflituosas no ambiente escolar e social. As Oficinas Psicoterapêuticas proporcionaram um Espaço Potencial em que o gesto espontâneo das adolescentes foi acolhido por meio do holding do grupo, permitindo às adolescentes se sentirem vivas, ouvidas e se expressarem espontaneamente, entrando em contato com suas angústias, conflitos e, criativamente, iniciaram um processo de elaboração. As entrevistas devolutivas ao final do processo permitiram observar que as Oficinas Psicoterapêuticas possibilitaram o alívio emocional e diminuição de acting. Frente ao exposto, conclui-se que as Oficinas Psicoterapêuticas propiciaram experiências mutativas das adolescentes de ambos os grupos por meio da materialidade como forma de expressão e comunicação, contribuindo para o amadurecimento emocional e, assim, maior integração do Self, utilizando defesas mais adequadas e diminuindo a conduta autolesiva. Considera-se, portanto, que a pesquisa contemplou os objetivos propostos, contribuindo para a compreensão da conduta autolesiva e para o desenvolvimento de uma proposta psicoterapêutica a ser aplicada junto a adolescentes. Espera-se que a pesquisa dê origem a estudos acerca das mesmas temáticas.

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