Procedimento de Desenhos-Estórias: diferentes formas de interpretação

TARDIVO, L. S. P. C. Procedimento de Desenhos-Estórias: diferentes formas de interpretação. In: TRINCA, W. (Org.) Formas lúdicas de investigação em psicologia: Procedimento de Desenhos-Estórias e Procedimento de Desenhos de Família com Estórias. São Paulo: Vetor, 2020, p. 67-85.O Procedimento de Desenhos-Estórias é trazido a partir da livre expressão do sujeito, a fim de propiciar uma compreensão da dinâmica psíquica. A interpretação corresponde ao levantamento de hipóteses em relação a diversos aspectos da vida psíquica: fantasias inconscientes, angústias, mecanismos de defesa, vínculos significativos, atitudes do sujeito em relação a ele próprio, à realidade e aos outros, qualidades da figura materna e paterna, entre outros. É apresentado um caso clínico referente à aplicação do D-E em dois momentos da psicoterapia de uma menina, que estava em acolhimento institucional desde os 7 anos de idade, com suspeita de ter sofrido abuso sexual, num contexto familiar e social de vulnerabilidade. A primeira aplicação ocorreu quando a menina tinha 11 anos, e a segunda aos 14 anos de idade. A análise das unidades produzidas pela menina foi feita sob diferentes referenciais teóricos da psicologia. São focalizados os referenciais fenomenológicos existencial e junguianos. Considerando-se o referencial de Tardivo, apoiado em pressupostos psicanalíticos, verifica-se que, além de a menina ter apresentado resistências de realizar o D-E na primeira aplicação, predominaram sentimentos derivados de conflito, sentimentos de abandono e uma percepção frágil de si mesma e do mundo. Além das tendências destrutivas, o Procedimento trouxe à tona a idealização. Na segunda aplicação, as unidades gráficas são mais bem estruturadas e as estórias têm maior coerência. Os temas predominantes são: desejos de ser protegida e cuidada e, ao mesmo tempo, impulsos destrutivos. Os mecanismos de defesa evidenciados nesta aplicação são ligados à repressão e à projeção.