DALPINO, L. R. S. C. Psicodinâmica familiar e características de personalidade de pais, mães e filhas obesas. 74p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto (SP), 2021.
Disponível em: https://doi.org/10.11606/T.59.2021.tde-23042021-103744
Resumo: O aumento exponencial do número de indivíduos obesos e das graves patologias associadas à obesidade faz com que ela seja considerada um dos maiores problemas de saúde pública da atualidade. Considera-se que o desenvolvimento e manutenção do excesso de peso têm origem multifatorial. As relações familiares e a personalidade dos pais são apontadas como fatores envolvidos na etiologia desse quadro. Porém são raros os estudos que abordam aspectos psicológicos e familiares que contribuem para o surgimento da Obesidade, com a produção científica se concentrando principalmente nos componentes biológicos e nos hábitos alimentares da família. Diante dessa lacuna, o presente estudo visa contribuir para o aprofundamento da compreensão das características de personalidade na obesidade, sob o prisma da psicanálise winnicottiana. Com base nesses pressupostos, este estudo objetivou investigar, por meio de uma avaliação psicológica empregando procedimentos projetivos, as características de personalidade de pais, mães e filhas obesas e os relacionamentos que eles entretêm, buscando identificar possíveis relações entre esses elementos e o favorecimento do quadro. Participaram do estudo cinco jovens do sexo feminino, entre 12 e 25 anos, que apresentavam obesidade com IMC entre 35kg/m² e 40 kg/m², vinculadas a um serviço de saúde pública especializado no tratamento da obesidade, e seus respectivos pais e mães. Os instrumentos utilizados para a coleta dos dados foram: (1) Roteiro de Entrevista Semiestruturada; (2) Questionnaire for Eating Disorder Diagnosis (Q-EDD); (3) Teste de Rorschach; (4) Procedimento de Desenhos de Família com Estórias (DF-E). Os dados obtidos foram analisados com base nas diretrizes dos instrumentos. Foi elaborada uma síntese psicodiagnóstica para cada um dos participantes. Posteriormente, foi realizada a articulação dos dados do pai, da mãe e da filha em cada família, resultando em uma síntese do grupo familiar. Em seguida, foi realizada uma síntese psicodiagnóstica de todas as filhas, uma de todas as mães e outra de todos pais. Finalmente, os dados dessas sínteses foram articulados em uma avaliação cruzada geral das tríades, que foram discutidos com a literatura da área. Os dados encontrados evidenciaram relações familiares marcadas pelo distanciamento afetivo. A maioria dos participantes evidenciou angústia de castração, que leva à repressão maciça das pulsões sexuais. As mães demonstraram maior controle lógico dos afetos, enquanto pais e filhas apresentaram menos sucesso nessa empreitada, o que promove a acentuação da angústia. Insatisfeitos, recorrem a defesas menos elaboradas e a integração dos afetos se torna ainda mais distante. Na busca por reequilíbrio, os pais se distanciam e usam defesas falso-self, o que dificulta o exercício da função de interdição. Já as filhas demonstraram regressão à oralidade. As mães, ao reprimirem suas vivências afetivas, oferecem um cuidado pautado no alimento concreto. Observa-se que as filhas, numa posição regredida, apresentam uma busca voraz por amparo materno via o alimento oferecido pela mãe, enquanto a última projeta na filha suas insatisfações, criando um vínculo de dependência entre elas. A estreita relação entre mãe e filha concorda com o afastamento paterno. Dessa forma, os sintomas das filhas auxiliam toda a família no afastamento dos conteúdos pulsionais, sendo alimentados por todos. Os resultados revelam que a avaliação e a inclusão da família no tratamento da obesidade podem colaborar para a melhor compreensão da natureza das dificuldades psicológicas dos membros que se encontram subjacentes ao quadro da obesidade da filha.